Do lúdico ao lúcido, compositora se despede do universo de ironias, humor e metáforas para destilar, com igual traquejo, discurso reto nas treze faixas de seu novo álbum totalmente autoral
Uma real atrás da outra, sem massagem, finamente destiladas em 13 faixas, em cerca de 45 minutos. Assim se apresenta “Pantim”, segundo álbum de estúdio da pernambucana radicada há dez anos em São Paulo, Luciana Lins, a Lulina.
Palavra mais usada no Nordeste do Brasil, pantim significa chamar atenção para alguma coisa. Pode ser sinônimo também de espernear, choramingar. E aqui, Lulina recorta com sua habitual sagacidade textual os pantins que fazemos na vida para encarar fragilidades, fracassos, medos, perdas e transformações inevitáveis.
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Dez anos de caminho criativo separam o disco de estreia de Lulina, “Cristalina” (2009), que garimpa faixas dos primeiros discos caseiros produzidos pela artista, de “Pantim”. Em 2013, ano que carrega o número amuleto da cantora, Lulina se despede de ETs, formigas e outros subterfúgios metafóricos divertidos, que marcaram sua carreira até aqui, para se enveredar, tão à vontade como antes, no discurso reto, mais direto na forma e veraz no significado. “A ironia é um recurso mais fácil e menos honesto. É divertido, mas faz parte do pacote do escapismo e estamos num momento de overdose desse recurso, que parece contribuir para um esvaziamento de sentido ou para uma preguiça de fazer o mais difícil: assumir as dificuldades da vida. Mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a encarar algumas situações nas quais não cabe ironia. Assumir nossas fragilidades, perceber que todos nós passamos pelas mesmas dificuldades, nos faz ver o quanto isso pode nos aproximar.”, explica Lulina.
A mudança não é brusca e sim um processo de anos. Algumas canções que integram o disco “Cristalina” foram compostas quando Lulina tinha 20 anos e são naturalmente imbuídas de uma ingenuidade maior. “Mas não que eu tenha me tornado uma mulher madura e vivida agora. Não gosto quando falam que a artista amadureceu - parece forçar a barra de uma mudança que é natural e comum a todos”, conta a cantora.
As faixas de “Pantim” traduzem um sentimento de desmascaramento da vida, sem ilusões, mas o objetivo não é soltar a bomba e sair correndo. É assumir que todos passam por perdas, medos, tristezas e decepções e de alguma forma aproximar as pessoas, despertar um cuidado entre elas. “O mundo estimula a gente a aceitar o sucesso e a felicidade como o padrão e os fracassos e tristezas como a exceção, como se tivéssemos realmente algum controle.”, explica a autora de “Pantim”.
Os arranjos, desta vez concebidos coletivamente por Lulina e sua banda – formada por Leo Monstro (piano e voz), Missionário José (baixo), André Édipo (guitarra), Pedro Falcão (bateria) e Habacuque Lima (guitarra) – surgem mais sujos e pesados. “Acho que naturalmente ficou mais real, mais presente, acompanhando o sentido das letras também, mas isso nem foi muito pensado ou planejado”, conta Lulina.
Das treze faixas do novo disco, que traz Lulina na capa fotografada por sua sogra, Ednéia Parada, dez são inéditas. Três foram resgatadas de discos anteriores: "Areia" (do caseiro "Sangue de ET"), "Faxina no Juízo" (do caseiro "Bolhas na Pleura") e “Imperador Buccini” (do caseiro "Aceitação do 14").
Entre as músicas novas, é possível identificar altas doses de realidade, e até uma eventual crueza, em todas as letras. Da nova leva, “Sexo é Maquiagem” talvez seja a exceção, com letra mais divertida que recomenda “amor não casual é mais que plástica, que mágica”.
A faixa que abre o disco, "Bombom Recheado", ao lado de "Buraco" e "Pantim", última música, podem ser consideradas canções chave desse novo universo lulínico ao sintetizarem todos os questionamentos do disco emfrases como "Ser gente é ser um bicho profundo. Tentando se preencher com tudo o que aparecer pela frente". O pantim do segundo disco de Lulina chama atenção para esse buraco e conclui "nunca houve festa, eu me enganei".
Sobre Lulina – Compositora prolífica, a cantora pernambucana se dedica à prática desde 2001 e coleciona dez álbuns artesanais autorais, dois de estúdio e um EP. Antes de lançar seu primeiro álbum oficialmente, pela YB, em 2009, a pernambucana já se destacava na cena musical brasileira. Participou da coletânea Satanic Samba (lançada na Bélgica e Holanda) e da coletânea em k7 Brasil could be your life, lançada em Washington pela gravadora Wild Animal Kingdom, além de protagonizar diversas pautas na imprensa nacional e internacional em veículos como a revista inglesa Plan B, Rolling Stone Brasil, Guia da Folha (capa em 2006), RevistaCoquetel Molotov e o site português Bodyspace.net. Integrou ainda o line-up de festivais como o primeiro Resfest Brasil e o Festival Coquetel Molotov, abrindo para o duo inglês/ norte-americano The Kills.
Em outubro de 2009, lançou seu primeiro disco de estúdio, “Cristalina”, que figurou nas listas de melhores discos do ano de veículos como O Globo e Rolling Stone. O show de Lulina foi eleito um dos cinco melhores shows nacionais pelo Guia da Folha.
As canções de Lulina podem ser ouvidas em trilhas de cinema ("A Mulher Invisível"), seriados (“Alice” – HBO), coletâneas musicais internacionais (The Wire, Sounds and Colours e revista espanhola Zona de Obras) e filmes publicitários (Revista TPM). Em março de 2010, fez sua primeira turnê pelos EUA, passando por Chicago, Seattle, Olympia, Wenatchee e Portland. No mesmo ano, lançou mais um disco caseiro, dessa vez em parceria com centenas de pessoas em um projeto colaborativo online, chamado “Meus dias 13”.
Suas criações e carisma renderam convites para palestrar na Social Media Week e no TEDxESPM, eventointernacional realizado em São Paulo pela primeira vez em 2011 ( assista aqui trecho da palestra).
Ficha técnica
Gravado na Yb por Missionário José e Carlos "Cacá" Lima
Assistentes de estúdio Klaus Sena
Produção executiva Lulina e Leo Monstro
Mixado na Yb por Carlos "Cacá" Lima
Masterizado por Carlos "Cacá" Lima e Benoni Hubmaier
Produzido por André Édipo, Leo Monstro, Lulina, Maurício Tagliari,
Missionário José e Pedro Falcão
Label manager Allana Morais
Projeto gráfico Rodrigo Sommer
Foto da capa: Ednéia Parada
Reprodução da foto da capa: Renato Parada
Lulina - voz e guitarra
Leo Monstro - microkorg, juno 106, hammond, piano e voz
Missionário José - baixo, banjo, synth, pedal de órgão e voz
André Édipo - guitarra, surdo, beats, synth, mellotron de mentira e violão
Pedro Falcão - bateria, surdo, metalofone e voz
Habacuque Lima - guitarra
via Fernanda Couto | sete8 inteligência musical